Texto: Sônia Fardin

Rio Grande, município do estado do Rio Grande do Sul, foi capital do estado entre 1835 e 1845. Aqui chegamos, vindos de Campinas com olhos turvos pelas imagens oficiais do extremo sul brasileiro.   Mas, a vida que pulsa na cidade natal de Zinclar, o Lari, nos surpreendeu, encantou e ensinou a desvê-las. 

Na área central da cidade se impõe a arquitetura portuguesa; com certeza construída por mãos indígenas e negras.

Mãos que re-existem em centenas de comunidades e terreiros de Umbanda e Batuque (Candomblé) em toda região, em áreas urbanas e rurais.

Corpos negros e indígenas, que ainda hoje, continuam a ser parte viva do cotidiano urbano; mas não da história da vida cotidiana narrada no Museu Municipal de Rio Grande.

Cidade cheia de rostos afro latinos e indígenas, que povoam as praças centenárias, mas não compõem os monumentos que as povoam.                   

Nas celebrações oficiais sobressai a presença da usurpadora oligarquia europeia, cultuada nos nomes das ruas, praças e avenidas; construídas pela massa de trabalhadores não brancos, não nobres e não presentes nas imagens da grandiloquência gaúcha oficial. 

Aqui, na cidade do fotógrafo gaúcho, negro, militante e operário, nos confrontamos com as imagens ideológicas que desvinculam as históricas matriz africana e raiz indígena da classe trabalhadora brasileira, desconectando-a de suas vivas raízes; no passado e no presente, de norte a sul do continente.

Desta cidade Zinclar partir aos 18 anos, e produziu com muitos parceiros um legado visual  que celebra negros, indígenas, bancos, asiáticos, enfim, toda diversidade que compõe a classe trabalhadora brasileira.

A convite da gente ativista que aqui, há muito mais tempo que nós, desvê o que é imposto como memória desta cidade e deste estado, viemos à Rio Grande para homenagear este negro que, sempre militante, se fez operário,  fotógrafo e guardião de memórias das lutas sociais travadas em muitas outras cidades e regiões brasileiras.

Memória viva, como viveu e legou o homenageado, é consciência coletiva em ação concreta para construir uma sociedade sem senhores e sem escravizados.  Um das maiores marcas deste legado é a capacidade de Zinclar de unir pessoas e grupos diversos que se reconhecem como Sujeitos na luta por esta nova sociedade.

Neste 19 de janeiro de 2023, passados 10 anos da partida de João Zinclar,  toda gratidão a gente do ArtEstação, do Hipocampus, da FURGS e da família Lima Silva,  que nos acolheram e se reconheceram no que somos e pelo que  juntos lutamos.

Hoje, para celebrar a presença viva do legado de luta do militante riograndino Lari,  de norte a sul do Brasil, organizações da classe trabalhadora brasileira clamam:

João Zinclar, Presente Hoje e Sempre!

Rio Grande, 19 de janeiro de 2023.

 

Homenagem Realizada em Rio Grande, RS – de 12 a 14 de janeiro de 2023.

Abertura da Exposição no ArtEstação

Registros e links das atividades online

  • 13 de janeiro – 14 h – Prédio das Artes – FURG, Campus Carreiros (Rio Grande/RS) – Mesa de debate: A fotografia e os movimentos sociais – um debate sob as lentes de João Zinclar. Assista aqui.
  • 14 de janeiro – 17 h – Hippocampus Sebo e Livraria (Cassino/RS). Roda de conversa: Histórias e memórias acerca do fotógrafo João Zinclar. Assista aqui.