As imagens do Acervo João Zinclar são parte da ação de um trabalhador inserido nas lutas sociais, que soube identificar as transformações na cultura visual e sua importância na luta política.

São imagens que registram inquietações sobre sonhos, frustrações, vitórias, projetos, desejos, contradições com as quais a vida, a luta, a militância e a memória se fazem.

São imagens que esgarçam as fronteiras entre criação e documentação jornalística, que registram inquietações sobre sonhos, frustrações, vitórias, projetos, desejos, contradições e as impermanências com as quais a vida, a luta, a militância e a memória se fazem.

Desde que se estabeleceu em Campinas, o Museu da Imagem do Som (MIS) passou a ser um dos locais em que o militante fotógrafo encontrou interlocutores para seus debates políticos e estéticos. Sua atuação junto à equipe do MIS Campinas não era de frequentador, mas de coautor de projetos de documentação. Sua compreensão da memória como ação de resistência é um grande exemplo. Com a  ausência abrupta do fotógrafo o  Museu da Imagem e Som de Campinas assumiu a tarefa de organizar o Acervo João Zinclar.

O acervo é composto por 53 mil negativos e 200 mil imagens digitais , são registros de greves, debates, ocupações, mobilizações, passeatas, movimentos estudantis, festas, celebrações e marchas, datados do início dos anos 1990 até o início de 2013, período em que a classe trabalhadora travou batalhas contra o neoliberalismo em muitas frentes no Brasil, na Bolívia e na Venezuela.

Acervos não são guardiões apenas de objetos, também abrigam perguntas à espera de quem as enfrente. O acervo João Zinclar guarda indagações políticas e estéticas sobre inquietações , conflitos e estratégias de lutas. Trata-se de um dos mais importantes acervos da história brasileira recene. Não apenas pela quantidade e qualidade de imagens, nem somente pelo período histórico, mas principalmente por ter como agente produtor um olhar forjado ao longo de anos em estudos e leituras, no peso da rotina operária, nos improvisos da vida de andarilho, no trabalho artesanal, nos embates da luta sindical, na formação foto-cineclubista, na luta política de esquerda e na troca de olhares vivida em metrópoles e vilarejos. Realidades registradas pela ótica de quem recusou-se a ser mera extensão de máquinas, tanto na fábrica como na mídia, e escolheu não se acomodar na camada confortável da obviedade – da vida, da política e da produção fotográfica.